“Vida louca vida, vida breve.
Já que eu não posso te levar quero que você me leve”.
Na década de 80 se ouvia muito esse hit nas rádios e
estádios lotados de fãs que se identificavam com a poesia franca de Cazuza. Ele
se perguntava o que esperar desta vida tão passageira. Uma vida fatiada em
pedaços, em fragmentos de pequenos grandes momentos e lembranças.
Muitas vidas vivemos em uma só. Muitas vidas viveremos
até nosso fim. Hoje faço e penso diferente de dez anos atrás. Pareço outra.
Vejo fotos antigas e, não fossem pelos meus olhos que não mudaram, diria que
era outra pessoa. Hoje, menos afoita tento ouvir mais, perceber mais. Em
compensação adquiri mais manias, sou mais exigente. Presto atenção aos detalhes
e consigo admitir a finitude da vida que me parece mais frágil e rara.
Mas nem sempre foi assim. Foi preciso viver algumas
vidas para chegar a esta conclusão. Não me refiro as vidas passadas
justificadas pelo espiritismo. Falo sobre as inúmeras vidas que temos ao longo
dos anos.
A primeira vida se vive ainda sem muita consciência. É
mais instintiva e marcada pela inocência, pelos primeiros tropeços, pelos sons
e sopros que tornam-se palavras, pelos traços tortos que formam desenhos. Desta
vida levamos as primeiras impressões do mundo.
Estas impressões mudam radicalmente ao experimentarmos
a infância. Desta vida todos nós temos lembranças. A transição de criança para
menina, da fralda para os vestidos rodados. Já temos consciência da nossa
existência, já conseguimos andar, nos comunicar e principalmente questionar. Uma
vida repleta de curiosidade e descobertas.
Mais alguns anos e as bonecas cedem lugar aos diários,
as paqueras, festas, e claro, a turma. Vidinha mais avessa esta de adolescente,
que nos faz optar pela companhia de amigos aos pais, que mais parecem
atrapalhar e sabotar nossas fugas e aventuras e cortar nosso barato com muitos irritantes
nãos. A rebeldia, teimosia, inconseqüência
fazem parte da puberdade. Espinhas e dúvidas vêm de brinde.
Chega então a hora de fazermos nossas escolhas. Já
temos vida suficiente para isto. Namoros sérios, faculdade, viagens, os
primeiros estágios. Uma vida de mais responsabilidades e de mais critérios
também. Não nos permitimos entrar em tantas roubadas, calculamos melhor o
tamanho do tombo.
E agora? O que será que vem pela frente? A maturidade,
a maternidade, a sabedoria...mais respostas, passos mais precisos, mais
calculados. Ou será o contrário? Dizem que depois de certa idade, voltamos a
ser crianças. Precisamos de cuidados, ficamos birrentos e buscamos mais
atenção. Seja como for, a vida é e sempre será uma surpresa de descoberta e
aprendizado. Uma oportunidade de experimentar, de se conhecer e já que dela
nada se leva, que ela nos embale, nos inspire, nos leve...assim como cantava
Cazuza.
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