Delicadas esculturas
cristalinas se formam a cada rajada de vento frio junto a chuva fina, que cai
sem parar. Cèu e terra se fundem num branco profundo. A rua de ontem tao
trivial, quem diria, se torna especial por nela flocos de neve cairem gentilmente.
Grandes obras de arte
surgem sobre as arvores, carros e telhados e um novo cenario aparece diante
destes olhos tropicais incrèdulos e maravilhados. Estes mesmos olhos deveriam
piscar mais devagar para admirar uma estaçao que, assim como o sol, reflete e
brilha tudo a sua volta.
Dentro de mim desperta a
criança que nao esta nem ai pro frio, que quer guerrinha de neve, boneco de
neve, que quer viver a neve! Resgatar a infancia atraves do clima è uma
experiencia incrivel principalmente para quem foi criada muito perto da praia,
do mar, sol e calor. Enquanto existe um forte coro a minha volta de inumeras
reclamaçoes por causa do tempo eu torço o nariz e volto ao meu universo ludico
e divertido.
E depois de semanas de entusiasmo
e contemplaçao, o frio vem mostrar sua outra faceta. Faz o ser humano se voltar
para dentro de si. Assim como os bichos que se retraem dentro do casco em busca de aconchego e calor,
chega a hora de acolher a introspecçao.
Mergulho dentro de mim e contemplo o silencio de um tempo de portas e
frestas fechadas, muita roupa e pouco contato visual. Nao è incomodo, è apenas
o silencio do frio, necessario e inevitavel. Aos poucos o frio deixa de ser
intenso, a chuva da uma trègua e esculturas descongelam lentamente atè sumir. A cidade fica limpinha a espera da nova
estaçao.
A primavera esta por
chegar, linda e colorida. Janelas, flores e sorrisos vao se abrir. Mas enquanto
ela nao vem eu me despeço e saboreio o restinho desta estaçao guardando nas minhas
melhores lembranças e recordaçoes o bem que a neve me trouxe. A menina agradece
e reverencia a magia, o encantamento e
toda a poesia deste tempo bom e inesquecivel.
Italia, Janeiro de 2012.
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