sexta-feira, 20 de julho de 2012

DESAPEGO



Porque é tão sofrido e difícil se desfazer das coisas?
Uma mudança de endereço, por exemplo, é um prato cheio para testarmos nossa capacidade de desapego. É na hora de puxar para fora o que tem dentro dos armários e gavetas e começar a empacotar, que percebemos a quantidade de tranqueiras que acumulamos ao longo dos anos. Para que tanta coisa? Precisamos disto tudo?

Na última e recente mudança que fiz me surpreendi com a quantidade de “um tudo” que venho guardando por tanto tempo. Minha nossa. Bolsas, cintos, roupas, CDs, sapatos, livros, revistas, caixinhas decorativas, bijuterias, luminárias e por aí vai. Propus repensar os verbos dar, doar, esvaziar. Decidi me livrar do velho e deixar espaços vazios, em branco, sem nada. Além de ajudar muitas pessoas exercitando a solidariedade, deixei uma bagagem que seria literalmente um peso e um transtorno se eu quisesse levar comigo.

O desapego é um exercício diário, bastante propagado pelo budismo, que sugere uma conexão íntima com aquilo que é importante ser e ter. Temos a tendência de nos apegarmos a objetos, por várias e honestas razões, sejam elas emocionais ou afetivas. Mas a verdade é que adoramos e desfrutamos do capitalismo, somos vorazes consumidores, ávidos por novidades.

Estudos apontam esse consumismo desenfreado como uma válvula de escape para suprir carências afetivas ou desviar a atenção de um problema disfarçado pela compra. Somos fisgados por sedutoras campanhas publicitárias que nos provam o bom negócio que é consumir, gastar, devorar. Desempenham seu papel com brilhantismo ao mostrar o quão necessário é tal produto para mudar completamente a nossa vida. E a gente cai nessa armadilha, se enforca no cartão de crédito, que nos ilude, nos tira da realidade financeira e estimula compras que não seriam feitas não fossem as tentadoras facilidades que oferecem. Lotamos todos os buraquinhos possíveis com bugigangas que, na próxima estação, entrarão em desuso e cairão no nosso esquecimento.

E depois do ataque consumista resta a pergunta: Onde guardar tudo o que compramos? Em armários embutidos, projetados para os micro-apartamentos cada vez menores e compactos em formato de ovo. Ou se tem uma mansão com um senhor closet ou se tem uma caixinha de fósforos para guardar suas coisas. Sendo assim, resta a nós selecionarmos o que realmente é útil e nos desfazermos de todo o resto. Não há mais espaço e a coisa tende a ficar cada vez mais apertada e menor! É só darmos uma olhada nos chineses que se multiplicam na velocidade da luz, dormindo uns sobre os outros em cabines minúsculas que mal os suportam deitados.

Colecionamos cacarecos ao longo da vida entupindo nossos armários, gavetas, nossas casas sem nos darmos conta do valor do espaço vazio, da amplitude, do eco.

A consultora de moda Glória Kalil adverte que, se temos uma peça de roupa e não a usamos há dois anos é hora de passar adiante, você provavelmente não usará mais. Surpreenda-se e aproveite o espaço que se abriu diante de uma providencial doação e pratique um trabalho mental de auto-controle sobre o atulhamento de coisas na sua casa. Não é tarefa fácil mas é recompensador poder dançar no meio da sala que ficou maior, mais livre, mais vazia.


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