Algumas fichas caíram ao assistir o anúncio de despedida
dos campos de Ronaldo Fenômeno. Temos a tendência de começar a valorizar quem
deveríamos estar valorizando há muito tempo somente quando estes nos ficam
inacessíveis.
Quando esse excelente jogador estava em campo, ativo e
produtivo, era exaustivamente cobrado, comparado e também ridicularizado pelo
seu peso e condicionamento físico.
Pois foi só o craque anunciar que havia pendurado as
chuteiras para que o Brasil e o mundo, como num passe de mágica, substituíssem
as alfinetadas venenosas por elogios e exaltações. O jogo virou. Se, no mês
passado Ronaldinho era questionado por seu “desempenho medíocre?”, hoje ele é
reverenciado por seu legado, por suas jogadas eternizadas, por sua contribuição
maciça ao futebol mundial. E porque só agora?
Os súditos, por fim, curvam-se a genialidade deste
ícone do esporte, que superou a dor e as adversidades dando um oléééé aos
maldosos e incompetentes, sendo triplamente eleito o melhor jogador do mundo!
Foi preciso anunciar a aposentadoria para que
começassem as homenagens, quase vistas como póstumas, como um tributo. A
importância da obra de mitos como Van Gohg, Janis Joplin, Jimy Hendrix só foi
reconhecida quando eles já não estavam mais por aqui para desfrutá-la.
A valorização pós-perda costuma gerar um sentimento de
nostalgia, uma vontade de voltar no tempo e dizer tudo o que deveríamos ter
dito muito antes de ter perdido a oportunidade de nunca mais poder dizer.
Deveria ser mais comum, mais normal tecer sinceros
elogios a quem faz por merecer, assim como parece ser tão banal destilar
indelicadezas, fofocas e pitacos a vida alheia.
Talvez neste século não tenhamos um jogador tão
brilhante como Ronaldo Nazário. E isto só pode ser percebido hoje, quando ele
já não está mais nos campos. “Eu perdi para o meu corpo”, disse ele emocionado.
Não Ronaldinho, nós é que perdemos a oportunidade de demonstrar a você o quanto
somos gratos, o quanto estamos orgulhosos! E sim, estamos saudosistas hoje!
Florianópolis, 13 de fevereiro de 2011
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