sexta-feira, 20 de julho de 2012

INDELICADEZAS COTIDIANAS



A falta de tato me magoa. Não consigo sair ilesa de pequenas e doídas indelicadezas, que muitas vezes passam batido por quem as causa.
Noite dessas me ressenti com uma bobagenzinha. A pizza estava quase pronta, aquele cheirinho de queijo tostado perfumava a casa inteira. Foi quando decidi tornar especial um dia que até aquele momento estava acontecendo normalmente, sem grandes novidades.

Coloquei um CD de música romântica e automaticamente desliguei a TV que passava o noticiário sangrento do dia. Assim que a música tomou conta do ambiente, o homenageado em si me olhou pasmo perguntando o que tinha acontecido pra eu desligar a TV. Meu Deus! Parecia que eu tinha ofendido a mãe dele. Eu esperava surpreendê-lo com um pouco de poesia e arte mas quem teve a surpresa maior fui eu. Não teve sensibilidade de perceber a sutileza deste gesto.

Ta bom. Pode ser uma frescurinha feminina, mas mesmo sendo só uma música gostaria que ele tivesse entendido o sentido de sair da rotina e transformar uma atmosfera deixando-a mais leve e alegre. A proposta era uma pequena ação diferente do cotidiano para transformar um momento comum em especial. Não foi nada demais, nem coisa para causar uma terceira guerra mundial, mas fiquei chateada por ver minha idéia ser tesourada, desdenhada e principalmente incompreendida. Percebi que nem sempre para bom entendedor uma música romântica basta.

Existe um abismo de predileções e vontades que se afinam e destoam entre os opostos que volta e meia deixam de se atrair e passam a se repelir, as vezes com uma freqüência maior do que gostaríamos. Deveria estar conformada com teorias como esta, mas admito que sou um serzinho romântico e passional.

Na mesma hora em que a boniteza me perguntou por que ouvir música ao invés do rotineiro noticiário, azedei e perdi a vontade de música e de romance também. Propositalmente comi a pizza muda deixando ressoar o jornal da noite que pareceu inconveniente. Meu silêncio era tão incômodo que a belezura entendeu que havia pisado na bola a ponto de fazer notar minha decepção sem nada comentar. Não elogiei o jantar, como de costume e, apesar de estar uma delícia, não dei ibope e fui dormir mais cedo. Saí de cena como boa e rancorosa taurina que sou.
Naquela noite não dei o privilégio da minha companhia e só se ouviu o som da TV na sala. Mas nada gritava mais alto que o silêncio que insistia em ecoar pela casa vazia, cheia de arrependimento.



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