domingo, 31 de março de 2013

NÚMEROS VITAIS



Quando pequena brincava de boneca e via na mãe sua maior referência. Queria ser como ela. Passear de salto alto, ter cabelos longos, usar batom vermelho e ter unhas compridas.
O tempo passou e com ele a vontade de ter filhos só aumentou. Com a chegada dos 30, a maternidade gritava dentro dela e cada rostinho de bebê a fazia querer mais e mais ter o seu.

Positivo! 2 linhas do teste de farmácia comprovam que uma vida já existia. Seu corpo mudava diariamente. 2 números a mais no sutiã para a sua alegria! Empinava a barriga para parecer maior. Tanto orgulho dentro dela mal cabia.
2 meses de gravidez e 2 milhões de enjôos ao dia. Cada esquina de Amsterdam sabia de sua condição. E depois de tanta indisposição, a fome chegou com tudo esvaziando cafés e cantinas italianas. Capuccinos e brioches consumidos com prazer, sem culpa, pela primeira vez na vida. O que ela mais queria era ver aquela barriga crescer.

E mesmo com vontade de fazer xixi de 5 em 5 minutos, com uma azia do tamanho da Asia, com dor nas costas e sem poder dormir de bruços, o encanto do rosto ela não tirava. Curtia silenciosamente cada momento e deleitava cada movimento daquele feto cheio de energia. Ansiosa esperava por aquele dia. O dia em que tudo mudaria.

E eis que, por um capricho do destino ou uma conspiração cósmica divina, sua filhinha nasceu no mesmo dia do aniversário do seu pai querido. 23 de março de 2012! Quanta alegria! Presente melhor não poderia lhe dar. Em Torino nasceu sua italianinha!
E nasceu rápido. Não quis fazê-la sofrer. Interrompeu as contrações e avisou aos médicos que queria logo nascer. Em 10 minutos, ela estava nos seus braços, que ainda um pouco grogue de alegria e de anestesia, só conseguia babar sua cria.

Daquele momento em diante foi um aprendizado atrás do outro. Nasceu também uma mãe que, a sua maneira, encontrou a sintonia perfeita para compreender o que sua Isabella queria e precisava.
Pela primeira vez na vida entendeu o que é doação e amor incondicional. Se colocou em segundo plano e o fez com o maior prazer e satisfação. Se entregou a sua pequena e a retribuição era perceber que estava acertando ao vê-la se desenvolver e se tornar uma criança forte, feliz e sadia.

1 ano passou e foi tudo tão intenso, único e transformador. 365 dias inesquecíveis, de amadurecimento e crescimento pessoal. Melhor que ganhar na loteria!
Ela agora olha para o seu filhotinho que começa a ensaiar os primeiros passos, esplora todos os cantos e pra tudo o que faz busca seu olhar e cumplicidade o tempo inteiro. Ela sente uma responsabilidade que a faz querer acertar e ser melhor, já que é o exemplo maior de sua amada.
Com 80 centímetros bem distribuídos num corpinho cheio de dobrinhas, este serzinho preenche sua vida, vale qualquer esforço e justifica toda a sua entrega.
A menina cresceu. Virou mulher e teve a sua menina. Cuida, defende e protege a sua família. Hoje ela pinta as unhas, usa batom, salto alto e tem cabelos longos. E é o maior modelo para a sua filha que a observa e busca a sua aprovação para tudo o que faz. E a vida se repete lindamente. Como deve ser…

Um comentário:

  1. Lindo como tudo o que escreve essa maravilhosa escritora, jornalista e mãe.Amei cada palavra, senti muito carinho e saudade da tua infância,minha querida escritora, filha e mãe dedicada.Parabéns!!

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